O ano de Hugo Souza no Flamengo começa de fato nesta segunda. Após a disputa do Sul-Americano sub-20 com a seleção, seguido de um mês férias, o goleiro grandalhão, de 1,96m, se reapresenta nesta segunda. Vai se preparar para a disputa da Copa do Brasil da categoria, enquanto aguarda uma definição do clube sobre os próximos passos.
Campeão da Copinha em 2018, convocado por Tite para período de observação e nome frequente nas seleções de base, inicialmente Hugo subiria definitivamente para o profissional para a vaga de quarto goleiro. Como o empréstimo de Thiago ao Atlético-GO não deu certo, a tendência é que Neneca, como é conhecido no Flamengo, siga no sub-20 para jogar na categoria, enquanto aguarda uma nova brecha no elenco principal.
– Me preparei durante as férias para voltar bem. Agora é esperar para saber o que o Flamengo planeja para mim. Espero poder jogar, desempenhar meu trabalho. Se Deus quiser, subir para o profissional, que é o sonho de todos. Poder estar no clube de coração e ter a chance de treinar com grandes atletas, como Diego Alves, Gabigol… Vou dar meus 120% – disse Hugo Souza, em bate papo com o GloboEsporte.com.
Mesmo longe, a cabeça nunca esqueceu o Flamengo. No Chile recebeu a notícia da tragédia que matou 10 companheiros de base, em incêndio no Ninho do Urubu, no início de fevereiro.
– Fiquei muito triste. Chorei bastante, liguei para os meus pais. Vivi aquilo, morei no clube por três anos. Eu conhecia os meninos, mas tinha mais contato com os goleiros. Algumas vezes nos juntávamos para treinar. Conhecia o Christian, o Bernardo… O Rykelmo já morava lá na época que eu morava também. É triste. O Christian tinha uma projeção muito grande, era convocado para Seleção. O Bernardo também era muito bom goleiro. Foi um choque muito grande para nós. Agora a missão que era deles, tornou-se nossa. Vamos fazer da melhor forma.
Antes de se reapresentar ao Flamengo, Hugo bateu um papo com o GloboEsporte.com, em sua casa. Goleiro reserva da Seleção sub-20, falou sobre o fracasso no Sul-Americano, quando o Brasil não conseguiu vaga no Mundial, relatou planos para a temporada e recordou o período de treinos com a Seleção de Tite.
O que deu errado na Seleção sub-20?
Em relação aos resultados, não foi o que esperávamos, até pelo time que tínhamos. Fomos para buscar o título, mas infelizmente as coisas não correram bem. Temos que ter cabeça para entender o que aconteceu e suportar. As críticas são normais, mas sabemos a capacidade de cada um, a vamos seguir a vida. Se Deus quiser, vou voltar à Seleção no profissional.
Era uma geração muito promissora, com conquistas no sub-17.
Não consigo explicar. Era um grupo unido, forte, de muita qualidade. Tínhamos um bom ambiente fora de campo, todos eram amigos. Numa folga, durante a preparação, alguns jogadores vieram aqui para casa. Conseguíamos levar isso para campo, mas as coisas não andaram.
Tivemos pouco tempo de preparação. Treinamos três quatro dias, depois jogávamos um dia, descansávamos outro, jogávamos no outro. Então o tempo para treinar foi muito curto. Infelizmente não conseguimos desempenhar um bom futebol e nos classificar.
Como será sua volta ao Flamengo?
Minha situação será definida quando eu voltar. Provavelmente será no sub-20, porque teve a situação do Thiago. Vou disputar a Copa do Brasil sub-20 e aguardar para ver se vou subir. Tenho mais um ano de sub-20.
Já tive experiência no profissional, fui para dois jogos no começo do ano passado, treinei direto no profissional. Depois que o Diego Alves se machucou, teve aquela situação, treinei mais vezes lá em cima. Fica uma expectativa, mas vamos esperar o que o Flamengo vai decidir. Sei que vão decidir o melhor.
Já teve contato com o Wagner Miranda (novo preparador de goleiros do Flamengo)?
Já. Na última passagem dele pelo Flamengo, trabalhei com ele algumas vezes, tinha 15 anos. Nessa volta ainda não o encontrei. Tem o Nielsen também, com quem trabalhei dois anos no sub-20. Agora ele subiu. Espero trabalhar com ele de novo (risos).
Como chegou a você a notícia do incêndio no Ninho do Urubu?
Foi muito triste quando recebi a notícia, imaginei que poderia ser eu. Foi um acidente o que aconteceu. Passei três anos lá, comi do melhor, bebi do melhor, dormi em cama boa, estudei em colégio bom… Minha formação como atleta e como homem foi boa parte dentro do clube. Meus pais estão aqui de prova, nunca tive qualquer problema lá dentro. Infelizmente aconteceu. Agora, quando entrarmos em campo, com certeza vamos jogar pelos meninos.
Acredita que em todas das categorias vai se criar esse sentimento de que é preciso jogar pelas vítimas e deixar a imagem da base como vitoriosa?
Com certeza cria. Jogar pelo Flamengo já tem um peso normal, um peso bom. Temos a responsabilidade de vencer por causa da camisa, e agora com a tragédia que aconteceu carregamos um peso ainda maior. Eram sonhos como os nossos, e hoje nos sentimos responsáveis também por cada sonho que foi interrompido. Nada mais justo nós entrarmos em campo a cada treino e a cada jogo pensando em como podemos melhorar, por todos. Se antes os times da base já tinham visibilidade grande, agora será ainda maior…
O Flamengo vive uma fase em que está bem servido de goleiros. O que você mais observa no Diego Alves, principalmente nas cobranças de pênalti? O que ele tem de diferente?
Ele é muito experiente e costuma usar os atalhos. Pelo tempo que tem de Europa, consegue se posicionar muito bem não só nos pênaltis. Faz muitas defesas difíceis por isso. Convivi bastante com ele, é um cara que conversa muito comigo. Na hora do pênalti, realmente é muito decisivo. Não sei o que ele faz, qual é a mágica (risos). Parece que consegue entrar na mente do cobrador. Fala, aponta para os lados.
Isso é um jogo psicológico. Eu sou mais calado, mas faço as minhas movimentações no gol, abro os braços… Até por eu ser grande, o batedor vai pensar que tem que tirar muito de mim para eu não pegar. O que eu trouxe do Diego para mim nos treinamentos é a passada que ele faz. O que ele tem de melhor para nos passar é a experiência dos anos que teve na Europa.
Aquela foto observando o Julio Cesar vai ficar marcada para sempre na sua vida?
Com certeza (risos). Ele é uma grande referência para mim. Quando pude ver ele de perto no primeiro treino, foi um susto “É o Julio Cesar”. Fiquei parado vendo tudo o que ele fazia, todos os movimentos. Foi muito bom treinar, conversar com ele e criar um vínculo. Estive na despedida dele. Ele chegava de manhã já animando todo mundo, no meio dos garotos “Vamos trabalhar, tira essa cara de sono”. Ele merece tudo o que conquistou.
O que deu para aprender durante os 10 dias de treino com a Seleção principal?
Eles são referências para nós. Pude conviver com eles de perto. No sub-20, queriam saber se os caras treinam à vera mesmo. Foi algo que me chamou muita atenção. No futebol, a gente vê, infelizmente, muitos casos de garotos que começam a crescer um pouco e acham que já conquistaram muita coisa. Aí você vê o Neymar, o Coutinho e o Thiago Silva correndo, treinando forte… Foi a primeira coisa que falei na sub-20. Os caras estão lá, mas fazem por onde. Trabalham muito. Se quisermos chegar lá, vamos ter que ter muito empenho e dedicação nos treinos.
Foi o que me chamou muito a atenção. Um absurdo. Cheguei muito tímido, conhecia só o Paquetá. Mas me acolheram de uma forma sensacional, o que só me ajudou a desenvolver o meu trabalho. Treinei bem, graças a Deus. Espero ter deixado uma boa impressão (risos).
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