Um espaço mínimo e um ato de desespero. Em meio às chamas que tomavam conta do alojamento onde ocorreu o incêndio no Ninho do Urubu, na madrugada da última sexta-feira, o jovem Pablo Ruan só viu uma saída para salvar a própria vida.
- Eu estava dormindo no quarto. Quando acordei, já estava com falta de ar. Estava tudo escuro, dava para enxergar nada. Tentei abrir a porta, mas ela já tinha travado. Aí fui tentar sair pela janela. Vi que passava e me joguei pela janela – disse, em entrevista à RPC nesta segunda.
A janela não tinha vidro, era uma porta de correr que só abria para um lado. O que complicava a fuga era a grade.
- Passei primeiro minha cabeça, depois fui passando meu corpo. Quando vi que passou tudo, me joguei para fora. Depois amarrei minha camiseta na cara e tentei puxar a grade. Chamei o segurança, e ele arrancou a grade. Ajudei a puxar os três que estão no hospital hoje – contou, referindo-se a Jhonata Ventura, Cauan Emanuel e Francisco Dyogo, que ficaram feridos e estavam no quarto ao lado.
O atacante Pablo Ruan estava no quarto com Christian Esmério, Jorge Eduardo e Samuel Thomas. Os três amigos morreram no incêndio.
- Percebi (que eles estavam no quarto), porque dava para ouvir eles falando. Estavam gritando, apavorados. Menos o Christian, ele estava dormindo com fones de ouvido. Acordei com falta de ar, sem saber o que estava acontecendo. O Jorge (Eduardo) falou para eu botar a cabeça para fora para pegar um ar, aí vi que passava meu corpo e tentei.
Pablo elogiou o tratamento dado pelo Flamengo e disse que não lembra de ter dado qualquer problema no ar condicionado antes da tragédia. Segundo ele, passou a haver piques de energia após o temporal que caiu no Rio de Janeiro na semana passada.
- Desde quando cheguei o Flamengo cuidou muito bem de mim. Nunca me faltou nada no clube. Foi um fato que aconteceu de temporal, caiu árvore, por isso a energia ficava indo e voltando. Quando voltou de uma vez, queimou o ar condicionado.
Além de Pablo Ruan, outros 15 meninos sobreviveram ao incêndio. O garoto de 16 anos teve apenas ferimentos leves no peito e nas costas. Ele tem noção da tragédia que vivenciou.
- Por questão de segundos eu poderia ter morrido. Minha segunda vida agora. Estou muito feliz com isso.
O jovem rubro-negro ainda garantiu que seguirá trabalhando pelo sonho. O seu sonho. E também o dos amigos que se foram. - Vou continuar, não vou desistir do meu sonho. Isso poderia acontecer na casa de qualquer um. Eles poderiam ter ido para casa e acontecer lá. Foi uma tragédia que aconteceu. Não vou me abalar. Vou continuar sonhando por eles também.
Globo Esporte