Após seis anos sob o comando de Eduardo Bandeira de Mello, o Flamengo tem um novo presidente. Antigo apoiador da gestão que deixa o clube, Rodolfo Landim venceu nas urnas como chapa de oposição e prometeu um Flamengo unido e pronto para retomar um ciclo de vitórias nos próximos três anos.
Passada a festa pelo sucesso da campanha, é hora de arregaçar as mangas e entender como colocar tudo que foi pregado em prática.
E pode não ser tão simples.
Apesar do predomínio do roxo na onda que invadiu a Gávea durante todo o processo eleitoral, é certo que há uma mistura bem maior de cores, tribos, estilos dentro da união que elegeu o novo presidente.
Num primeiro momento, ”unir o clube” não se tratava de um ideal de campanha e sim de uma necessidade para conseguir brigar nas urnas com a SoFla, grupo político que apoiava a gestão Bandeira e a candidatura de Lomba. Para isso, Landim trouxe para perto correntes e grupos com diferentes perspectivas de Flamengo.
Nas urnas, tudo funcionou bem.
Agora, porém, terá que ter habilidade para equilibrar e gerir todos que o abraçaram.
Landim tem seus nomes de confiança. A maioria, assim como o novo presidente, é remanescente do grupo que elegeu Bandeira em 2012, participou processo de organização do Rubro-Negro e se separou na eleição de 2015. Um deles é Claudio Pracownik, seu vice de finanças, que estava na gestão Bandeira até pouco tempo atrás ocupando a mesma pasta.
É um claro indício da intenção de cumprir a promessa de preservar a responsabilidade financeira e o rótulo de ”clube cidadão que honra suas dívidas” .
Gestão de grupos após a vitória será necessária
Ao mesmo tempo, Landim teve apoio de nomes da ”velha política” rubro-negra. Para seu carro-chefe, o futebol, Marcos Braz é o novo vice-presidente (o primeiro a ser confirmado oficialmente). Braz foi VP de futebol pela última vez entre 2009 (na conquista do hexacampeonato brasileiro) e 2010, nas gestões de Delair Dumbrosck/Marcio Braga e Patrícia Amorim.
No sábado de votação na Gávea, foram vistos outros presidentes e ex-presidentes de antigas gestões apoiando a chapa roxa.
A chapa vencedora ”uniu” grupos que pensam o Flamengo por óticas distintas e defende o diálogo. Landim precisará de habilidade e sabedoria para gerir cada um desses apoios. Terá que equilibrar para que o lema de ”trazer de volta o Flamengo vencedor” não se confunda com trazer de volta traços de um Flamengo amador que ficou no passado.
Vale ressaltar que presidente eleito defende a manutenção do profissionalismo e ajudou no processo de saneamento das contas do Rubro-Negro entre 2013 e 2015.
”A volta do Flamengo vencedor”. Mas como?
As frustrações do futebol acabaram servindo de combustível extra para o crescimento da candidatura de Landim. É inegável os muitos avanços do Flamengo nos seis anos com Bandeira de Mello, mas o futebol falhou e deixou a desejar diante das expectativas criadas – no último mandato, venceu somente o Carioca de 2017.
Em sua campanha, Landim bateu forte na tecla dos insucessos em campo. Falou-se muito em “DNA vencedor”. Em um dos primeiros discursos, disse que ”odiava perder” e que ”sentia falta de um Flamengo indignado com a derrota”. Falou muito em cobrança por resultados.
– O Flamengo vai mudar. Vai deixar de ser esse time apático que temos visto atualmente – disse Landim, em setembro, no evento de lançamento de sua campanha.
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Agora resta saber como Rodolfo Landim, Marcos Braz e o seu comitê do futebol (que ainda terá nomes confirmados oficialmente) pretendem colocar esse plano em prática no dia a dia.
No ambiente do futebol existem peculiaridades – algo que Braz ajudará com seu conhecimento e experiências anteriores. É diferente do âmbito empresarial, no qual Rodolfo Landim tem entendimento de gestão necessária para exercer cobranças e estabelecer metas. Seu antecessor, Bandeira de Mello, foi alvo de duras críticas por sempre tentar defender o grupo de jogadores e blindar ao máximo mesmo após os fracassos.
Certo ou não, o presidente tinha o tal ”bom relacionamento no vestiário”. Adversário de Landim na eleição, Ricardo Lomba (atual vice de futebol) teve problemas nesse sentido quando subiu o tom publicamente após a eliminação do time no Carioca deste ano – chamou de vergonhosa a derrota e acusou o grupo de ”correr menos que o adversáriro”. Precisou manobrar a situação dentro dos muros do Ninho do Urubu.
Landim em seu discurso chegou a apontar que ”o Flamengo hoje é apático, não fica revoltado com a derrota”. Garante que a cobrança e a responsabilidade virão de cima e que não aceitará comodismo diante de falhas.
Se a promessa for cumprida ao pé da letra, resta saber como o elenco (que deve sofrer mudanças) reagirá ao novo comando rubro-negro. Uma das grandes interrogações deste início de mandato diz respeito ao relacionamento entre a nova diretoria e os jogadores.
E ainda fica a questão de como será o ambiente do clube caso o futebol, muitas vezes imponderável, não entregue conforme as expectativas.
No adeus, Lomba prioriza o Flamengo
Se em determinado momento da campanha houve ataques pesados e animosidade nos bastidores, o sábado na Gávea deixou, de modo geral, uma mensagem positiva. Apesar de algumas provocações direcionadas principalmente ao presidente Eduardo Bandeira de Mello, o clima após a apuração das urnas foi respeitoso.
E, nesse sentido, vale citar a postura de ambos os candidatos. O atual vice de futebol e nome da situação, Ricardo Lomba, reconheceu a derrota, antes mesmo do fim da apuração. Caminhou ao lado de Landim até os apoiadores das chapas, e os dois trocaram abraços e cantaram juntos o hino do clube. Eleitores das chapas rosa e roxa aplaudiram em união.
Horas antes, Bandeira já havia deixado a sede da Gávea. A decisão de não esperar a apuração, vale ressaltar, se mostrou acertada, uma vez que a figura do presidente era o alvo dos apoiadores mais exaltados da oposição. Sua presença poderia mudar os ânimos. Antes de sair, no entanto, o presidente foi até Landim cumprimentá-lo e mostrou-se aberto para fazer a melhor transição possível nas próximas semanas.
Se tais posturas não ficarem apenas no discurso inicial, melhor para esse novo Flamengo.
A posse de Landim será ainda em dezembro. Ele assume oficialmente a partir de janeiro.
Globo Esporte