O desconforto era evidente. Fossem nos gestos ou no olhar, Eduardo Bandeira de Mello se despedia como se fosse um peixe fora d’água do clube que governou por seis anos. A cordialidade, entretanto, esteve intacta e ditou o tom da troca de bastão com Rodolfo Landim na presidente do Flamengo.
Ainda restam 11 dias de mandato, é verdade, mas são protocolares. Se a cerimônia da noite de quarta-feira na Gávea ainda não dá poderes administrativos ao novo mandatário, o processo de transição foi pacificado por Bandeira após revés nas urnas.
O próprio Landim citou em seu discurso de posse que seu antecessor a partir de 1º de janeiro o procurou depois da eleição e abriu as portas para facilitar a troca de comando.
– Queria agradecer ao presidente Eduardo (Bandeira). Logo depois da eleição ele me procurou e disse que estaria com as portas abertas para que fizéssemos um processo de transição legal dentro do clube. E estamos nesse processo. Estão nos ajudando muito, pensando grande, pensando no Flamengo.
Quem o procurou também foi o ex-concorrente Ricardo Lomba, mas não pessoalmente. Atual vice de futebol, o dirigente não participou da cerimônia de posse e mandou mensagem por telefone ao ex-rival.
A maioria do grupo político SóFla também não deu as caras no adeus do presidente que apoiaram nos pleitos de 2012 e 2015.
O relógio apontava pouco mais de 19 horas quando Bandeira de Mello chegou sem ao salão nobre Gilberto Cardoso Filho. À mesa, se viu ao lado de antigos aliados que viraram rivais.
Maurício Gomes de Mattos, Rodrigo Dunshee de Abrantes, Wallim Vasconcellos, Bernardo Amaral, o próprio Rodolfo Landim, estavam ali, cadeira a cadeira após um período eleitoral quente. O clima, porém, era de distanciamento e paz.
Candidato à vice-presidente na chapa de Ricardo Lomba, Walter Oaquim sentou-se à sua direita e praticamente foi o único com quem Eduardo interagiu durante o ato. A trégua coletiva ficou evidente nas vezes em que teve o nome anunciado e recebeu aplausos.
No discurso do adeus, o ainda presidente pareceu emocionado. Falou da relação passional com o Flamengo, deixou a avaliação de seus seis anos de gestão para os sócios, e desejou sorte a Landim:
– Fizemos tudo o que esteve ao nosso alcance, sem qualquer tipo vaidade e sem qualquer interesse que não fosse o bem do Flamengo. Exatamente como aprendi com meus pais. Encerrado o meu ciclo, me despeço e desejo muito sucesso ao presidente Rodolfo Landim e à nova diretoria. O sucesso de vocês será o sucesso do Flamengo, que é a minha paixão incondicional. Viva o Flamengo.
Nesta sexta-feira, no Maracanã, o time Sub17 ainda disputa com o Fluminense a decisão da Copa do Brasil. Provavelmente, Bandeira ainda será visto pela última vez em público na função que exerceu por mais de meia década.
A partir de janeiro, será só mais um torcedor. No setor leste do Maracanã, como costumava fazer.
Globo Esporte