Andar com Junior pelos estádios da Copa das Confederações é uma missão difícil. A cada caminhada, um pedido aparece. Fotos, entrevistas, autógrafos… Comentarista do SporTV na Rússia, o ex-jogador do Flamengo tem sentido na pele o prestígio de ter feito parte da seleção brasileira de 1982. Abordado por torcedores e jornalistas, o Capacete é uma referência de futebol arte na Rússia, chamado várias vezes de “lenda”. Mas, para um fã especial, Junior é muito mais que isso: é o encontro com o passado de sua família. Em Kazan, onde a seleção portuguesa está concentrada para a semifinal contra o Chile, o zagueiro Bruno Alves fez questão de encontrar o ídolo e trocar algumas palavras sobre seu tio, o meia Geraldo Assobiador, revelado pelo Rubro-Negro na mesma geração campeã mundial em 1981 e que morreu precocemente aos 22 anos.
Junior está hospedado no mesmo hotel que os portugueses. Após algumas trocas de mensagem pelo celular, Bruno combinou um bate-papo com o ídolo no saguão. O encontro foi rápido, com tempo apenas para tirar fotos. Mas há assunto para muito mais conversa. Em 2008, quando esteve em Brasília para o amistoso entre Brasil e Portugal, o zagueiro foi recebido por Junior e revelou ao GloboEsporte.com o desejo de conhecer os antigos companheiros de Geraldo, já que gostaria de ouvir histórias sobre o tio que, mesmo tão rápido, marcou a torcida do Flamengo.
– Na verdade, o Geraldo era o nosso ídolo. Pela habilidade, pelo jeito simples dele. Era um jogador que corria com a cabeça em pé e com a bola grudada nos pés. Sem dúvida, ele teria uma carreira brilhante – disse o Capacete.
Bruno e Junior deverão se encontrar ainda na Rússia para conversar mais. O pai do defensor, Washington, também atuou pelo Flamengo como zagueiro e depois fez carreira em Portugal, onde Bruno nasceu. Em homenagem ao irmão que morreu durante uma operação de amígdalas tão novo, Washington batizou seu outro filho de Geraldo, que seguiu os passos da família e virou jogador.
– Cheguei a pegar o Washington no Flamengo, era um um zagueiro muito vigoroso, forte pra caramba, com muito preparo físico. Mais ou menos o jogo do Bruno. Só que o Bruno tem mais categoria, é mais técnico do que o pai foi – lembrou o ex-camisa 5.
Falar de Geraldo traz muitas lembranças ao Capacete. O meia mineiro tinha uma relação próxima com os grandes nomes daquela geração do Flamengo, principalmente com Zico, a quem era chamado até de filho pelos pais do ex-camisa 10. Junior lembra bem o dia que recebeu a notícia da morte do amigo em 26 de agosto de 1976:
– Todas as vezes que a gente fala do Geraldo é com um carinho especial e fica um nó na garganta, porque ele se foi muito cedo. Todos nós éramos muito chegados. Estávamos em Fortaleza, na piscina, quando ouvimos no alto-falante. Estávamos eu, Cantarelli, Jayme (de Almeida), Vanderlei (Luxemburgo) e o Zico. Perder um amigo já é dificil… Na idade que vai crescer com você, fazer uma vida profissional… Sempre tem um motivo de tristeza.
Do primeiro encontro em 2008 em Brasília até a conversa em Kazan, Junior continuou seguindo a carreira de Bruno Alves a distância. E até brincou com o passado rubro-negro da família do atleta: para o ex-camisa 5, há lugar na defesa do Flamengo para o sobrinho do amigo.
– Até hoje, com 35 anos, fácil! Dava para arrumar uma vaga lá, vou dar um toque nele (risos).
Se Bruno teria lugar no Flamengo atual, será que Geraldo encaixaria no histórico time de 1981? Junior tem a resposta:
– Colocava o Adílio pra ponta esquerda e… Nossa! O time ia ter Geraldo, Andrade, Zico e Adílio.
Uma escalação que a torcida do Flamengo não pôde ver. Mas que jogaria como música. Ou melhor, como um assobio.