Dia 3 de julho de 2016. A tesoura de Fagner em Ederson, lance no qual o árbitro Heber Roberto Lopes não marcou falta e terminou expulsando Zé Ricardo por reclamação, foi o último momento do camisa 10 do Flamengo em campo. Nesta segunda-feira, o jogador de 31 anos completa nove meses sem atuar pelo Flamengo.
O retorno aos campos do jogador ainda não tem data. Embora o Flamengo não divulgue previsão de recuperação, a expectativa inicial era da volta de Ederson em 40 dias, prazo que não se confirmou. Já se passaram mais de 270 dias e todo o cuidado tem sido feito na fase final de recuperação do jogador que tem contrato com o Flamengo até o fim de 2017.
Com histórico de lesões na carreira, o atleta abriu mão de salários no Lazio para rescindir com o clube italiano e jogar no Flamengo. Sempre elogiado pela dedicação e comprometimento ao longo da carreira, Ederson chegou valorizado como um dos principais nomes e salários do elenco rubro-negro. Sem entrar em detalhes, o departamento de futebol do Fla informou que “o atleta já está trabalhando com o grupo, se condicionando fisicamente, fortalecendo o local e, ao mesmo tempo, mantendo o trabalho individualizado no CEP, como os demais atletas”.
Tratamento “conservador” no início até a decisão pela cirurgia
O Flamengo apostou inicialmente num tratamento que o chefe do departamento médico rubro-negro, Marcio Tannure, tratou como “conservador” – jargão da medicina que, em linhas gerais, trata do lesionado sem a necessidade de cirurgia. À época, Tannure explicou por que precisaram de tempo até optar pela artroscopia.
– Ederson teve fratura osteocondral (de cartilagem), um edema ósseo, naquela entrada do Fagner. Foram múltiplas lesões e uma dessas pequenas lesões foi de menisco. Então a gente primeiro tratou essa fratura osteocondral e o edema ósseo na expectativa de que, com o tratamento conservador dessas outras patologias, evitasse o procedimento cirúrgico. Mas só saberíamos se haveria necessidade de cirurgia ou não após o tratamento da fratura osteocondral e do edema ósseo. Infelizmente após todo o esforço do atleta na reabilitação dele e de todo o esforço aqui do CEP, ele ficou recuperado da fratura e do edema, mas a dor permanece, e a gente vai ter que realizar a artroscopia para poder tratar essa lesão de menisco – disse Tannure, em entrevista ao GloboEsporte.com em 6 de setembro (a cirurgia foi feita no dia seguinte).
Esperança frustrada para reta final de 2016
Com o Flamengo inserido na disputa pelo título brasileiro e a demora na evolução de Ederson, o departamento médico ainda tinha confiança em colocá-lo para jogar no fim de 2016. A recuperação, todavia, desenvolveu-se de maneira mais morosa, e o departamento de futebol não o arriscou na reta final da competição.
– É difícil dar uma previsão. Porque a última previsão que a gente deu já não se concretizou. Óbvio que a gente vai fazer todo o esforço. A gente espera contar com ele neste ano. É nosso pensamento, nossa vontade. Só que tem que respeitar a individualidade de cada um e do atleta. Mas todo esforço vai ser feito para isso, pode ter certeza – dizia Tannure no fim de outubro.
Preocupação com o emocional do atleta
Além do problema no joelho esquerdo, o sofrimento de Ederson longe dos campos era motivo de preocupação do Rubro-Negro. A angústia passou a ser compartilhada por familiares e amigos, que aguardavam ansiosamente o retorno do atleta. O psicólogo do Flamengo, Fernando Gonçalves, contou um pouco do momento que passava o atleta no início do ano.
– Ederson passa por esse sofrimento, algo de quem quer demais a recuperação. Mas em função do edema ele não consegue avançar. Falamos com o Márcio (Tannure) nesse processo. Ele (Ederson) é muito perfeccionista, gosta de ter muitas certezas, flexibiliza o processo para a recuperação ser a mais saudável possível, para que a cabeça ajude. É difícil, ele quer muito ajudar. Tivemos a fatalidade do jogo contra o Corinthians, que é um fator externo, que comprometeu. Ele acaba usando tudo de forma inteligente para que esse processo seja da maneira mais saudável e que a cabeça jogue a favor nessa recuperação – contou Fernando, em 17 de janeiro.
A seis meses do fim do contrato
Apresentado em 24 de julho de 2015, o atleta atuou em apenas 32 partidas desde sua estreia, em 12 de agosto do ano (neste período, o Rubro-Negro disputou 112 jogos – o camisa 10 entrou em campo 28,5{cf06184211ecbb120ae965cbd53b0cebe372eac85785f1ddbb4e41b41438fd51} dos confrontos possíveis). Na estreia, jogou bem, e o Fla venceu o Atlético-PR por 3 a 2, no Maracanã. Teve boa sequência de cinco jogos, com direito a dois gols em duelo com o Palmeiras (2×4), mas sofreu lesão na coxa esquerda em empate com o Vasco que eliminou o Rubro-Negro da Copa do Brasil.
No mesmo ano, novamente contra o Vasco, desta vez em derrota por 2 a 1, no Brasileiro, levou pancada no joelho direito e sofreu contusão ligamentar. Novamente perdeu ritmo.
A temporada de 2016 só começou para Ederson em 5 de março, quando os reservas venceram por 3 a 1 o Bangu, e o camisa 10 encerrou período de 104 dias sem atuar. Passou a ser utilizado por Muricy Ramalho e posteriormente por Zé Ricardo. Seu melhor momento deu-se entre 26 de junho, na derrota por 2 a 1 para o Fluminense, e a goleada por 4 a 0 para o Corinthians. No meio dos dois duelos, marcou na vitória sobre o Inter.
Tá chegando a hora?
Ederson já treina normalmente com o restante do grupo desde o começo do ano. Não deixou de trabalhar um dia sequer – e fez também tratamento nas férias, com acompanhamento do departamento médico do Flamengo. Semana passada, Zé Ricardo disse que o processo de retorno do meia está adiantado e só depende de correções mecânicas e ritmo de jogo. Sofreu uma torção no tornozelo, mas nada que diminuísse o otimismo do departamento de futebol.