Um filme sempre passa na cabeça de Everton ao voltar para Curitiba. Na história, ele é o personagem principal, e a capital paranaense o cenário onde sua trajetória improvável no futebol se tornou realidade. Remete a algumas boas lembranças antigas e a outras difíceis e recentes. Peça fundamental no elenco do Flamengo, ele estará em campo na partida chave desta quarta-feira, pela fase de grupos da Libertadores, diante do Atlético-PR. O jogo é às 21h45, na Arena da Baixada.
Everton foi ”descoberto” por um olheiro chamado Godoy, do Paraná Clube. Tinha 11 anos e morava na pequena cidade de Nortelândia, no Mato Grosso. Mesmo muito novo, seguiu o caminho de muitos meninos do Brasil e deixou a casa dos pais antes mesmo da adolescência. De lá, ganhou notoriedade justamente ao deixar Curitiba para o Flamengo. E ele lembrou esse caminho antes de voltar a atuar em sua ”cidade do coração”. Veja essa trajetória contada pelo jogador:
Paraná: o berço
“Foi onde começou tudo. Entrei com 11 anos, fiz minha base inteira no Paraná Clube, me tornei profissional e depois fui para o Flamengo. Lá (Paraná) me formei como jogador, atleta e homem. Se cheguei aqui é graças ao Paraná Clube.”
“Não deixaria meu filho ir embora com 11 anos”
“É loucura. Sou pai hoje. E eu não deixaria meu filho ir embora com 11 anos com uma pessoa, até então, desconhecida. Eu fui para Curitiba e fiquei indo na minha cidade de ano em ano. Olho para trás e penso, deu tudo certo. A gente vê casos de crianças que acabam acontecendo um monte de coisas.”
Caio Júnior: o técnico que fez Everton valer por cinco
“Quem me trouxe para o Rio e para o Flamengo foi o Caio. Ele me conhecia da base do Paraná Clube. Eu era jovem e tinha uma pressão muito grande. Na época, foi difícil. Os jogadores do na época, no vestiário, ficaram me olhando. Pensavam: ”Não é possível que esse menino está indo sozinho e vindo cinco do Flamengo no lugar”.
Nota da redação: Na época que contratou Everton, em 2008, o Flamengo emprestou ao Paraná os jogadores Fabrício, Rômulo, Camacho, Vinícius Pacheco e Éder. A insistência de Caio Júnior foi determinante para que ele tivesse a primeira grande oportunidade de sua carreira.
Emoção ao falar de Caio
“É ruim demais até ficar falando. É trágico. Um cara trabalhador. Era como o Zé Ricardo, estudava muito. Adorava futebol bem jogado. Uma tragédia que até hoje é difícil engolir. A gente vive viajando. Eu, falando por mim, tenho medo. Tenho certeza que ele está olhando pela gente. Era do bem.”
O que Caio Júnior viu no Everton magrinho e franzino do Paraná?
“Queria que ele estivesse aqui para responder. Mas tenho certeza de que via algo diferente, porque ele insistiu muito para eu vir para o Flamengo. Tenho muita gratidão. Foi uma cara que acreditou em mim na época do Paraná, falou que me queria no time de qualquer jeito. Era um cara dez.”
Velhos tempos do Paraná e Dinelson como espelho
“Dinelson estava no profissional, era o craque do time na época que eu estava na base. Na posição que eu jogava. Ele era minha inspiração. Eu era até banco dele quando fui para o profissional. Ele voltou para o Corinthians e me disse: ‘Agora é com você, você tem essa capacidade de jogar aqui.’ É um cara especial. Acredito que se não tivesse machucado o (ligamento) cruzado algumas vezes, hoje estaria em outro patamar.”
Depois de México, Botafogo e Coreia… Curitiba de novo
“Tive três anos difíceis, de ser emprestado. Isso para o jogador é horrível, muito ruim. No Atlético me encontrei de novo, em 2013. Em Curitiba, cidade que eu gosto muito. E que minha esposa e meus filhos adoram também. A estrutura que o Atlético-PR me deu, time jovem, foi um ano muito bom.”
Carinho da torcida do Furacão? Nem tanto…
“Poderiam me tratar um pouquinho melhor (risos). Na época que vim para o Flamengo, o presidente acabou falando algumas coisas que não aconteceram. Não foi o que ele disse (que aconteceu). Mas o torcedor acredita. Mas acredito que vai ser muito difícil. O Atlético é complicado. Lá na Arena da Baixada é muito difícil, um campo que eles têm costume de jogar, com grama sintética. Jogo fica mais rápido.”
Fonte: Globo Esporte