Não está chegando ao Flamengo um camisa 10 típico, um daqueles jogadores talhados para atuarem centralizados e bem próximos dos atacantes. Também não se trata de um cabeça de área limitado a proteger a zaga. Quem explica é o treinador que dirigiu Federico Mancuello pelos últimos sete meses no Independiente. Mauricio Pellegrino garante se tratar de um meia com características modernas, capaz de atuar de área a área — participando da organização do jogo, iniciando as jogadas, mas sem deixar de se infiltrar no ataque.
Pellegrino, ex-jogador de Vélez Sarsfield, Barcelona, Valencia e Liverpool, dono de rápida passagem pela seleção argentina, indica que Mancuello deve jogar como um segundo volante, ou um meia interior posicionado à frente do primeiro volante. E projetando-se ao ataque, preferencialmente, pela meia esquerda.
Se Muricy Ramalho optar pelo 4-2-3-1, poderia usar Mancuello como segundo volante, com liberdade para se juntar aos três meias. Num 4-1-4-1, ficaria na linha de quatro meias, como um dos dois jogadores mais centrais, embora pendendo para a esquerda.
— O ideal é que o time encontre um volante que jogue mais recuado do que Mancuello. Sua melhor característica é jogar como meia, sem atuar aberto pelo lado do campo. Rende melhor por dentro. Pode ser um segundo volante, mas com muita projeção ao ataque. Sempre teve talento. Nos últimos anos, somou muita capacidade de marcação e de finalização ao seu jogo — explicou ao GLOBO Pellegrino. — Os gols que marcou em 2014 dão a ele números comparáveis a qualquer volante do mundo. É uma grande perda para nós. O Flamengo certamente saberá usá-lo.
Pellegrino se refere a uma transformação na trajetória de Mancuello. Havia um sentimento de gratidão no Independiente pelo fato de ele ter permanecido no clube após o inédito rebaixamento, em 2013. Tal sentimento, obviamente somado à proposta financeira, influiu na liberação para o Flamengo. Em 2014, após ajudar a conduzir o clube de volta à elite argentina, Mancuello viu a chegada do técnico Jorge Almiron mudar seu estilo de jogo.
Antes era um meia que atuava aberto pela esquerda. Chegou a ser ala e também jogou pelo lado do campo na segunda linha de um 4-4-2. Conviveu com críticas, as mais duras na campanha do rebaixamento, consumado em 2013. Antes, passara um ano emprestado ao Belgrano. Com Almiron, passou a atuar por uma faixa mais central, como segundo volante num esquema 4-2-3-1. Foi sua melhor fase. Virou artilheiro do time.
— Antes, atuando aberto pela esquerda, eu tinha que correr 70m e chegava sem pernas no ataque. Agora, chego com mais fôlego para resolver as jogadas — disse o jogador, em entrevista dada durante a temporada de 2014.
No primeiro campeonato com Almiron, no segundo semestre de 2014, marcou dez gols em 19 jogos.
— Na campanha do Independiente na segunda divisão, ganhou muita personalidade em meio a um momento difícil. Certamente, chegará ao Brasil sem medo de assumir responsabilidades e de conduzir o jogo. Aqui, virou líder do time e é um dos últimos ídolos que o Independiente formou — contou Pellegrino.
Fonte: O GLOBO