A rivalidade ficou de lado em prol do esporte. Sentados na mesma mesa, Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo uniram forças para lutar contra a Medida Provisória 841. Assinada pelo presidente Michel Temer em junho, a ação cria o Sistema Único de Segurança Pública (Susp) e redistrui as verbas das loterias, tirando do esporte, apenas em 2019, o valor de R$ 514 milhões. Clubes formadores, os cariocas são afetados em cheio com o fim do montande de 0,5% das loterias para o esporte olímpico. A MP não contempla o Comitê Brasileiro de Clubes (CBC), responsável este ano pela administração e divisão de cerca de R$ 62 milhões a instituições esportivas. Sem esses valores, os clubes são unânimes em dizer que as categorias de base, compra de equipamentos e manutenção de projetos de inicação esportivas seriam praticamente ceifados, deixando na mão cerca de 10 mil atletas e mais de 100 profissionais que trabalham na área.
Nesta quinta-feira, na sede do Flamengo, na Gávea, dirigentes dos quatro clubes, ao lado da secretaria de esportes do estado do Rio de Janeiro, classificaram a MP 841 como um crime e uma afronta ao esporte olímpico. A ideia é fazer passeatas e mobilizar atletas e a sociedade carioca contra a Medida. Alexandre Póvoa, vice-presidente de esportes olímpicos do Flamengo; Jorge Veríssimo, vice-presidente de quadra e salão do Vasco; Márcio Trindade, vice-presidente de esportes olímpicos do Fluminense; e Gláucio Cruz, diretor de esportes olímpicos do Botafogo, prometeram trabalhar em conjunto e ao lado de atletas para evitar que a Medida Provisória, que tem efeito imediato, avance no congresso e vire lei.
“Acaba com o esporte olímpico nacional. O sacrifício é enorme. De uma hora para outra, temos esse corte. Quantos atletas que foram beneficiados deixaram de ser bandidos, de frequentar bocas, de estarem em más companhias. É uma visão obtusa, míope. Vamos lutar até o último minuto para combater essa MP” , disse Alexandre Póvoa.
Atualmente, o Flamengo conta com 3.500 crianças em escolinhas de categoria de base. Nos últimos dois anos, recebeu R$ 12,5 milhões do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) através de convênios. Reformou sua piscina olímpica, hoje de última geração, e reequipou todo o complexo de remo. Além disso, mantém 600 atletas olímpicos federados e 80 técnicos, fisioterapeutas e profissionais que trabalham diretamente com o esporte olímpico. Caso a MP não caia, o clube terá que refazer suas contas e diminuir o investimento já neste semestre, pois recursos destinados ao clube não serão depositados.
Entenda a MP 841
A Medida Provisória 841 de 2018, de junho, define que a partir da sua assinatura, 78% dos valores das loterias destinados ao Ministério do Esporte serão repassados para o Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP). Além disso, retira de outras entidades boa parte do seu orçamento. O Comitê Brasileiro de Clubes seria o mais prejudicado, perdendo todos os R$ 62 milhões, zerado. O COB perderia R$ 9,4 milhões. O Comitê Paralímpico do Brasil perderia R$ 5,3 milhões e a Fenaclubes cerca de R$ 3,2 milhões, além das secretarias estaduais de esporte, que ficariam sem R$ 196 milhões.